Little(1843) descreveu pela primeira vez, a encefalopatia crônica da infância, e definiu-a como uma patologia ligada a diferentes causas e características. Freud, em 1897, sugeriu a expressão Paralisia Cerebral, que, mais tarde, foi consagrada por Phelps, ao referir-se a um grupo de crianças que apresentavam transtornos motores mais ou menos severos devido a lesão do sistema nervoso central (SNC), com alterações motoras parecidas ou não com a Síndrome de Little.
Existem várias definições para Paralisia Cerebral, segundo diferentes autores. Cito essas:
A definição mais adotada pelos especialistas é a de 1964 que define Paralisia Cerebral como:
"Um distúrbio permanente, embora não variável, do movimento e da postura, devido a defeito ou lesão não progressiva do cérebro no começo da vida."
A definição usada pela Associação Mundial de Paralisia Cerebral em 1988:
"Um distúrbio de postura e movimento persistente, porém não imutável, causado por lesão no sistema nervoso em desenvolvimento, antes ou durante o nascimento ou nos primeiros meses da lactância" (Griffiths & Clegg, 1988).
Segundo Schwartzman (1993) e Souza & Ferraretto (1998), a PC pode ser classificada por:
Tipo de Disfunção Motora:
- Paralisia Cerebral Espástica;
- Paralisia Cerebral Coreoatetóide;
- Paralisia Cerebral Atáxica;
- Paralisia Cerebral Mista.
Topografia Afectada:
- Monoplegia;
- Diplegia;
- Hemiplegia;
- Tetraplegia ou quadriplegia.
Paralisia Cerebral Espástica: É a mais frequente, ocorre em cerca de 70/80% dos casos. Caracteriza-se por um aumento do tônus e uma diminuição da força muscular. Ocorre por lesão no trato piramidal (córtex cerebral), área do cérebro responsável pelo início do movimento.
As crianças com este tipo de PC tendem a desenvolver deformações osteo-articulares uma vez que os músculos afetados não têm um desenvolvimento normal. As deformações características nas crianças que adquirem marcha são:
- Flexão da cabeça;
- Rotação interna dos membros superiores;
- Flexão e rotação interna dos quadris;
- Flexão dos joelhos;
- Pé equino.
Hemiplégica: Afeta um dos lados (hemicorpo esquerdo). É a forma mais frequente. As causas são: alguns tipos de malformação cerebral, acidentes vasculares ocorridos ainda na vida intra uterina e traumatismos crânio encefálicos. As crianças apresentam bom prognóstico motor e adquirem marcha independente. Algumas apresentam um tipo de distúrbio sensorial que impede ou dificulta o reconhecimento de formas e texturas com a mão do lado afetado.
- No período pré natal, são aqueles que aparecem antes do nascimento. Principais causas: Alterações genéticas e/ou congênitas, sendo as mais importantes doenças infecciosas contraídas durante a gravidez (toxoplasmose, rubéola, citomegalus vírus, herpes vírus, sífilis), exposição prolongada aos Raios-X, uso de drogas e/ou álcool durante a gravidez, hidrocefalia, hemorragias durante o período gestacional, eclâmpsia, diabetes gravídica, etc.
- No período peri natal, os problemas seriam causados por complicações ocorridas no momento do parto, que causariam sofrimento fetal com baixa oxigenação cerebral e consequente lesão do SNC, hiperbilibirrubinemia, prematuridade, etc.
- No período pós natal, ocorrem após o nascimento da criança e secundariamente a processos infecciosos do SNC, principalmente encefalites e meningites, abscessos cerebrais, traumatismos cranianos, hipoxia cerebral grave (quase afogamento, convulsões prolongadas, paragem cardíaca).
- Atraso Mental, está mais associada as formas tetraplégicas, diplégicas e mistas.
- Epilepsia, está geralmente associada a forma hemiplégica ou tetraplégica.
- Distúrbios da linguagem.
- Distúrbios visuais, pode ocorrer perda da acuidade visual ou estrabismo.
- Distúrbios comportamentais, são mais comuns em crianças de inteligência normal ou perto do normal, que se sentem frustradas pela sua limitação motora e pela super proteção ou rejeição por parte da família.
- Distúrbios ortopédicos, são comuns retrações tendinosas, alterações da coluna (cifoses, escolioses), etc.
A PC não tem cura, uma vez que não se pode agir sobre uma lesão já superada e cicatrizada, portanto o seu tratamento é paliativo. Mas existem várias opções de tratamento que podem ser usadas isoladamente ou em conjunto: medicação, cirurgia, fisioterapia, fonoaudiologia, neurologista, equoterapia e, pedagogicamente, a tecnologia assistiva.
Um programa de reabilitação tem como objetivos gerais:
- Reduzir a incapacidade;
- Melhorar a postura;
- Melhorar a função.
O PC deve receber atendimento de Educação Especial e serviços terapêuticos o mais cedo possível após diagnosticado. A intervenção é vital durante o período inicial, pois quando o cérebro é jovem tem um certo grau de plasticidade. Em nenhum outro estágio a criança aprende e se desenvolve tão rapidamente como durante os primeiros anos de sua vida.
Os programas de intervenção precoce para crianças com PC devem ter uma abordagem centralizada na família.
Bibliografia:
GERALISIS Elaine. Crianças com Paralisia Cerebral. Porto Alegre, 2007. Ed ARTMED.
FARREL Michael. Deficiências Sensoriais e Incapacidades Físicas. Porto Alegre 2008. Ed ARTMED.
www.paralisiacerebral.org.br
www.minhavida.com.br
www.infoescola.com > Medicina > Neurologia